16.10.05

A madrugada mais curta do ano

Hoje não tem rock. Não tem bebidas. Não tem ninguém. Esta noite eu sou minha própria companhia enquanto Ela não chega. Será só eu e Ela, que já adentra imperceptivelmente meu lar. Sem sequer pedir licença.

Dessa vez quem baila comigo é a grande Senhora, a Majestade do silêncio e da solidão. A madrugada é pior que a morte, pois teima em ir e vir todos os dias, tenaz a me torturar nos minutos que duram horas, na areia que parece nunca cessar na ampulheta.

Mas não fujo. Não hesito. O homem não pode temer seus inimigos. Será a madrugada minha inimiga? Creio que não. Hoje o que mais quero é estar com ela. Preciso estar com ela. Minha bela amante, quero tê-la até o fim. Quero brincar no teu doce jogo de sedução.

Não há música nem vinho. Não há requinte. Só um computador, uma TV e um copo de coca-cola.

A imensidão da Internet parece esgotar-se. As informações e os jogos não preenchem minh'alma. Não há mais ninguem para conversar no MSN. Só ela está aqui. Me observa e me seduz com a certeza de que serei todo seu. Vou buscar satisfazer-me na televisão.

Os meus passos ecoam no silêncio e na no vazio da sala. E esse vazio entra em ressonância com o meu interior, que quer esquecer que ama e é amado. Quero ficar só com ela. Ó cortesã, puta safada. Minha angústia compra teu prazer. E deleito-me estranhamente.

E vou assitir a um filme. Um drama. A história de um menino que descobre o amor e a amizade durante o tenso período da revolução cubana. Enquanto os homens se matam por dinheiro, poder e liberdade, para o pequeno só importa aqueles que moram em sua vila. Seu mundo é aquele. O meu é ainda menor. A cada lágrima na tela me lembro que estou a sós com a Grande Majestade. O final do filme é triste, mas meu coração petrificado não permite que minha face umideça.

Vou à varanda. Observo os prédios ao redor. Luzes apagadas. Que bom! Parece que ninguém mais está a sofrer como eu. Um riso sarcástico faz-se em meu rosto: "Não sabem o que perdem deitados em seus travesseiros", sussuro.

Volto à TV. Do outro lado do mundo, carros de corrida disputam a supremacia da velocidade. Se para eles cada milésimo significa uma eternidade, pra mim as horas passam numa pachorra entediante. É o Grande Prêmio da China. Lá já é dia. Mas o dia nada mais é do que o prelúdio de mais uma madrugada agonizante que está por vir.

Às 5h40min o céu já está clareando. E aos poucos a natureza me cede mais um espetáculo. As cores se fundem nesse melancólido alvorecer. E vou me despedindo de minha companheira. Amada e odiada, bela e leviana, angustiante e irresistível. Um beijo de morte com um sol já raiando ao horizonte. Mas com a certeza de que ressucitará e logo estará a fazer-me companhia novamente.

E tanta tortura se deu no dia 16 de outubro. Dia em que começou o horário de verão. Uma hora pra adinatar no relógio. Foi a madrugada mais curta do ano. Pra quem dormia. Porque pra mim pareceu a mais longa, mais dolorosa e mais prazerosa.

E mais uma madrugada se vai. E mais um dia insiste em nascer sabendo que Ela voltará...

6 Gritos:

Anonymous Anônimo said...

mto bom seu post cara!! vc escreve bem pra caralho..
e de vez em qndo eu passo umas madrugadas igual vc passou.. é estranho e ao mesmo tempo prazeroso, como vc disse..

18:46  
Anonymous Anônimo said...

As madrugadas às vezes são mais longas, duram o dia inteiro, a luz do dia é só um disfarce,mas não me engana.A noite tem uma hora a menos, mas e o resto de todas as outras?Escuridão e luminosidades à parte, gostei mt do seu texto.Mas naum se preocupe nem c o dia nem c a noite, é só dormir ou sonhar que passa.Às vezes dura uma eternidade,como cada segundo...1,2,3,4,5...

16:58  
Anonymous Anônimo said...

oi, sou a msm anonima do otro comentário.Estava aki lembrando o q fiz nessa madrugada aí...Tinha rock,e pessoas,só num tinha bebida.Quase me esqueci q era noite,das horas, do dia.Distrair-se é esquecer...Esquecer é ser feliz.Ou ao menos fingir.Mas agora já passou, o vazio voltou, talvez nunca tenha ido de fato,mas o vazio é a vida,aminha vida, q mesmo cheia é vazia, como a madrugada q msm curta é longa.

17:10  
Blogger Vitor Taveira said...

ola anonima!
belas palavras
bom saber q outras pessoas tb compartilham desses momentos
bom saber? ou ruim saber?
sei la
o q quis deixar claro eh q mesmo qndo estou sofrendo, angustiado eu no fundo gosto da madrugada
sei la eh estranho
pq anonima? revele-se ó portadora de tão belo lirismo!
tb sou timido e colokei meu texto ai pra td mundo ver..
=)

22:47  
Blogger Vitor Taveira said...

gabriely falo q eu sou byroniano!!!
auiehuaheuiauiehae
q foda! nunca tinham me falado isso

nunca cheguei a ler um txt d byron inteiro nao, mas me amarro em alvares d azevedo, q eh o byron tupinikim neh?
aeiuhehauihehaei

axo q sou um poko d tudo, meio metamorfose ambulante. Gosto mto da critica social, da ironia refinada, do romantismo mais real, mas esse lado obscuro da literatura tb me atrai mto.
Mais confuso q eu impossivel! Ou será q eh possivel? Ah sei lá..ehhehee

22:56  
Anonymous Anônimo said...

Menino, pelo amor d Deus!! Avisa antes d escrever coisas assim... to chocada!! Mt foda!! Mas ae... confesso q deu vontade d conhecer a madrugada, dessa maneira... bjim!!

22:39  

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