"'O sucesso já não é mais a publicidade trabalhando para o mercado, mas o mercado triunfante trabalhando para a publicidade. Mais exatamente, o mercado funciona como suporte à publicidade, porque esta informa sob uma vasta paisagem a ser conhecida e conquistada' (DANEY, Libération, 01/10/91)
Mais precisamente ainda: a publicidade não serve somente para informar sobre o mercado, mas para constituí-lo. Entra em relação "interativa" com o consumidor, voltando-se não só às suas necessidades, mas sobretudo aos seus desejos. Não se volta somente às suas paixões e às suas emoções, mas interpela diretamente a razão 'política'. Não produz somente o consumidor, mas 'o indivíduo' do capitalismo imaterial. Dialoga com as convicções, os seus valores, as suas opiniões, tem a coragem de interpelá-lo lá onde a a política tem medo de entrar. Atualmente a publicidade é uma das formas mais importantes de comunicação social. Ela, enquanto tal, ocupa sempre mais o 'espaço público'; anima-o, provoca-o, sacode-o. É a empresa que diretamente produz o 'sentido' A distinção entre cidadão e consumidor pertence a uma outra época, e a publicidade da Benetton faz escândalo porque nos diz que entramos na era dos bens imateriais, 'psi', 'espirituais', que derrubam as fronteiras entre o econômico e o político. As análises da publicidade que nos forneceram Roland Barthes ou Umberto Eco, fundadas sobre a retórica, já estão definitivamente ultrapassadas"
(...) é necessário sublinhar que aos consumidores-cidadãos é solicitado um verdadeiro 'trabalho', pois a ação do consumidor (os seus desejos e valores) se integradiretamente, como momento criativo, no interior da rede social da empresa. Os fluxos de desejo são diretamente convocados, verificados, estimulados pela comunicação da empresa pós-fordista. O marketing mostra aqui sua verdaeira natureza: constrói o produto e solicita formas de subjetivação. O consumidor não é mais consumidor-massa passivo de uma mercadoria padronizada, mas o indivíduo ativo envolvido com a totalidade de sua pessoa. Para este fim é necessário 'conhecer' e solicitar sua ideologia, seu estilo de vida, sua concepção de mundo."
Extraído do artigo "Estratégias do empreendedor político", contido no livro "Trabalho imaterial- formas de vida e produção de subjetividade" de Antonio Negri e Maurizio Lazzarato