30.7.06

O dia em que a negritude do ser humano venceu a brancura do papel

Saindo de madrugada e envolto numa conversa agradável com o colega sentado ao lado, praticamente não dormi. Após rápido cochilo, acordei. Despertava o alvorecer quando estávamos prestes a chegar. O sol se expandia maravilhosamente em cores vivas ao horizonte, desviando-se diante dos eucaliptos fincados à terra. Ainda que fosse princípio de manhã ele ardia como chama. Chama. Parecia realmente me chamar àquela luta. Soava como um prelúdio do que estava por vir ao longo do dia. As malditas árvores não mais impediriam o contato direto com a grandiosidade da natureza e do homem.

Vento na cara, fiquei observando o redor da estrada. Verde. Imensamente verde. Deserto, totalmente deserto. Deserto verte. Era ele mesmo que combatíamos, um dos motivos de irmos até lá. Fitei-o por longo tempo, ora olhando entre as frestas e procurando o que se escondia além do horizonte delineado por árvores caprichosamente paralelas e lineares, ora raivoso por me sentir sufocado em meio aquela uniformidade toda. Como dói aos olhos tropicais assitir ao domínio da natureza formatada. E saber que um dia aquilo tudo foi de uma incrível exuberância. Ah, mas nostalgia é conforto dos fracos. As lágrimas não secam enquanto não se lute por isso. Esse era o nosso propósito. Ver o passado revivido sob novos personagens, com a força dos que já se foram refletida e multiplicada no olhar de cada um que hoje estaria munido de coragem.

Se me sentia sufocado durante longos quilômetros daquela viagem, imaginem o que sentiriam os que vivem essa sensação diariamente, todo ano, a vida inteira. Quando parou o ônibus, a primeira vista não poderia ser mais espantosa e angustiante. Esta ali, encravada entre uma mar de eucaliptos a comunidade quilombola. Demarcando o campo de futebol não havia marcas de cal e sim a fronteira com aquelas árvores.

Café, leite, batata-doce e mandioca enchiam as barrigas e sustentavam os sonhos no início daquela manhã especial. Aos poucos o movimento foi crescendo: quilombolas de diversas comunidades, índios, estudantes, sem-terra, pequenos agricultores, todos unidos naquele clima de confraternização. O tempo seguia lento como sempre é na roça, a hora parecia não passar, se arrastando entre papos empolgados e prolongados e a total falta de assunto que sempre tentamos vencer com alguma fala banal.

Até que quando começava a me acostumar com aquilo veio o chamado. Era a hora da ação. Partimos depois de uma pequena mostra da cultura daquele povo. No caminhos as emoções se misturavam. A euforia de ver aquele povo unido e obstinado, cantando por liberdade e dignidade. E novamente a agonia daquela prisão ao ar livre cujas grades rígidas e paralelas não eram feitas de aço, mas de árvores.

Chegando ao local, as vozes negras enalteciam a importância e significado daquilo tudo. Ali era o cemitério dos escravos, onde eram enterrados aqueles que fugiam dos grilhões. Ali estava soterrada a liberdade. Era hora de ressucitá-la, gritá-la, cerebrá-la!

Dessa vez a história se inverteu. Os frágeis eucaliptos não eram páreos para nossa força. Com incrível vigor e rapidez as árvores plantadas eram derrubadas e tomadas sob a bênção dos espíritos que ali jaziam. Nos olhos carregados de vivacidade novamente sentimentos misturados na intensidade absurda do prazer impagável de matar quem te matava, de esganar quem te sufocava.

Vencido o desafio, era hora de comemorar. Ali mesmo no terreno reconquistado, cantar, dançar, integrar. Era preciso também, ainda que simbolicamente, retribuir. E foram plantadas mudas de árvores nativas para que pudessem crescer de novo juntamente com o povo que se reerguia naquele local.

O sol não dava trégua e a fome apertava. Diante do cansaço, o caminho na volta parecia muito mais longo que na ida. Terminado o retorno, o conforto da sombra e a saciedade do almoço farto e saboroso, temperado com a simplicidade daquela gente. Barriga cheia, braços cansados. Sorrisos vitoriosos. Vitória que não significava comodidade, sensação de missão cumprida. Era apenas o começo de uma longa batalha. E, cientes disso, os quilombolas se reuniram. Claro que não cabia a nós interferir no rumo do que eles mesmos criaram. Mas acompanhei-os tomado de grande paz interior.

Aos poucos, o cansaço da noite mal-dormida e do dia intenso foi me vencendo. Apesar do desconforto, tive um bom sono, relaxado, durante a viagem de volta. Adormecido, não tive o sofrimento prolongado de ver passar aquele deserto que tenta cinicamente se disfarçar floresta. Acordado, tive a certeza de que aquilo tudo não foi só um belo sonho.
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Veja as FOTOS

28.7.06

Jornais venezuelanos e as duas faces da mesma moeda

Navegando pelo site Today's Front Pages (que como o próprio nome já diz, mostra a capa diária dos principais jornais do mundo) não podia deixar dar uma passada pela Venezuela. E vejam só.

Na capa do jornal El Universal o destaque é para o contrato militar de 3 milhões assinado entre Rússia e Venezuela. No alto, em letras menores, o jornal acrescenta que os presidentes dos dois países também discutiram temas relacionado ao petróleo e à tecnologia. O outro jornal do país com capa disponível no site, Últimas Noticias, dá um enfoque diferente. Anuncia um acordo de exploração do petróleo da venezuelano pelos russos e a declaração de apoio de Putin à Venezuela na ONU.
O El Universal, assim como todas as redes de televisão e 9 dos 10 principais impressos venezuelanos, faz oposição ao presidente desde sua eleição. Já o Últimas Noticias, simpático ao atual governo, foi o único grande jornal a noticiar o retorno de Chavéz ao poder após a tentativa de golpe militar em 2002.

É o jogo da mídia. Uma moeda tem dois lados. Mostra-se o que for mais conveniente.

* Leia também Venezuela: os laboratórios da mentira, de Maurice Lemoine

27.7.06

URGENTE: Aracruz Celulose tenta "comprar" comunidade acadêmica!!!

Férias. Hora de voltar pra casa, rever a família, descansar, renovar as energias pra nova jornada que está por vir, aproveitar o período de morosidade de estudantes e professores para aprovar projetos sem nenhuma discussão... opa! Peraí...
É isso mesmo. Mais uma vez o período de recesso é utilizado por aproveitadores pra suplantar o debate tão necessário para o sistema democrático.

Quem apronta é novamente a Aracruz Celulose- inimiga número um do movimento estudantil capixaba- que mais uma vez tenta defender seus interesses travestindo-se através do bom-mocismo da responsabilidade social. Um acordo costurado em sigilo com a reitoria e com diretores dos centros de ensino da Ufes está com data de votação no Conselho Universitário marcada para dia 10 de agosto, primeira semana depois do recesso. Sem haver tempo para a realização de um debate sério acerca da proposta.

O acordo prevê um investimento de 250 mil reais para pesquisas, que segundo documento escrito por professores e militantes caberia à Aracruz Celulose dar a palavra final sobre quais projetos seriam financiados. Além disso, o manifesto alerta sobre o atrelamento da imagem da Universidade com uma empresa que tem um longo histórico de desrespeitos a comunidades tradicionais do Espírito Santo.

Porém, houve resistência por parte de professores do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), justamente o alvo principal a ser conquistado pela Aracruz. Isso porque é de lá que estão saindo pesquisas de reconhecimento dos territórios de ocupação histórica dos quilombolas do norte do estado que hoje estão sob posse da empresa, além de graves denúncias de destruição ambiental por parte da multinacional.

Estudantes, professores e militantes já estão se articulando para fazer muito barulho no retorno às aulas e informar a comunidade acadêmica sobre esse acordo feito na surdina.

*O manifesto alerta que levando-se em conta o investimento de R$ 250 mil e os 10 mil alunos e mil professores da Universidade, chega-se a um preço de R$25 por aluno ou R$250 por professor. É isso que valemos? Eu declaro desde já que não estou à venda.

*É no mínimo curioso observar a demora na definição do sistema de cotas, que já vinha sendo estudado há dois anos e a rapidez no processo de votação de um acordo de financiamento privado de pesquisas científicas, o que pode comprometer na autonomia da Universidade.

*Leia também a matéria do Século Diário

25.7.06

"Toda relação de dominação, de exploração, de opressão já é, em si, violenta. Não importa que se faça através de meios drásticos ou não. É a um tempo desamor e óbice ao amor. Óbice ao amor na medida em que dominador e dominado, desumanizando-se o primeiro, por excesso, o segundo, por falta de poder, se fazem coisas. E coisas não se amam. De modo geral, porém, quando o oprimido legitimamente se levanta contra o opressor, em quem identifica a opressão, é a êle que se chama de de violento, de bárbaro, de desumano, de frio. É que, entre os incontáveis direitos que se admite a si consciência dominadora tem mais êstes: o de definir violência. Não será a si própria que chamará de vilolenta. Na verdade, a violência do oprimido, ademais de ser mera resposta em que se revela o intento de recuperar sua humanidade, é, no fundo, ainda, a lição que recebeu do opressor. Com êle, desde cedo, como salienta Fanon, é que o oprimido aprende a torturar. Com uma sutil diferença neste aprendizado- o opressor aprende a torturar, torturando o oprimido. O oprimido, sendo torturado pelo opressor."

(Extraído de "Educação Como Prática da Liberdade", de Paulo Freire)

Jornalismo "Independent"

O jornal britânico The Independent fez uma ótima capa sobre a guerra no Líbano.
Mostrando os países que são à favor de um cessar-fogo imediato, e os que são contra (Israel, Inglaterra, e EUA).



*Post roubado do Viva La Revolución!, que por sua vez achou a figura no Jacaré Banguela

23.7.06

Só de Sacanagem...



Em homenagem a Billie Wonder, do blog Viva La Revolución.

20.7.06

Senhor das Armas e Conselho de Segurança da Onu

Aproveitando a deixa do blog Viva La Revolución! queria reiterar a dica de assistir o filme Senhor das Armas, já disponível nas locadoras. A história é de um homem que enriquece como traficante de armas, alimentando diversas guerras, a maioria delas na África.

No fim, a conclusão de que além de algumas pessoas que ganham dinheiro com o comércio ilegal de armas, os cinco maiores vendedores de armamentos são cinco países membros permanetes do Conselho de Segurança da Onu. Conselho de Segurança? Ou de Insegurança? Ou Conselho de Guerra?

Não custa lembrar que os EUA levaram à frente a Guerra do Iraque mesmo sem votar em tal conselho, pois era certo que perderia devido à forte opinião pública contrária na maioria dos países-membros. E não sofreu qualquer retaliação.

Isso sem falar que os membros permanentes do CS (que tem direito a voto e veto) foram escolhidos logo após a 2ª Guerra Mundial. E de lá pra cá o mundo mudou bastante, não? O Brasil tá doido pra uma vaguinha lá...
Pra quê?

19.7.06

Uma onda no ar...

Uma Onda no Ar é um filme baseado na história da Rádio Favela, surgida em 1983 no Aglometado da Serra, morro de Belo Horizonte. O filme conta como quatro amigos idealizaram a criação de uma rádio comunitária para dar voz à periferia e fugir da massificação que é oferecida diariamente pela indústria cultural. A repressão da Anatel e da Polícia Federal e a dificuldade de legalizar rádios comunitárias por irem contra o interesse das rádios comerciais são temas abordados.

O tempo passou mas as dificuldades continuam. O ministro da comunicações Hélio Costa deixou claro em seu discurso de posse: "As rádios comunitárias terão que servir à comunidade como determina a lei que as criou. Se funcionarem dentro da lei, rigorosamente dentro da lei, serão respeitadas. A rádio pirata vai ser fechada." Ou seja, não haverá qualquer incentivo ao desenvolvimento das rádios comunitárias e qualquer deslize será motivo pra fechá-las. Não é à toa que dizem que ele é "o homem dos empresários de rádio e TV" (clique aqui e veja as págs. 14 e 15).

A voz dos excluídos, a consciência dos pobres incomodam os poderosos, que tentam a todo custo sufocar o grito que vem da periferia. A liberdade de expressão continua sendo um direito restrito apenas a uma minoria.

Obs: não deixem de assistir ao filme e aproveitem os links desse post porque eles não estã aí por acaso.

Empresas são as estrelas das propagandas eleitorais

A Copa acabou. Outra competição agora assume lugar nos jornais. O período eleitoral, além da disputa por vagas, tem outra semelhança com o futebol: movimenta uma considerável soma em dinheiro. As doações para campanhas deste ou daquele candidato movimentam cifras nada modestas. Grandes empresas estão de prontidão para dar apoio financeiro aos candidatos de sua preferência.

No Espírito Santo, em levantamento feito por A GAZETA, nomes de companhias figuram entre as maiores colaboradoras dos candidatos das eleições de 2002. O Governador Paulo Hartung (do PSB, quando se elegeu ao cargo) recebeu R$ 500 mil da Aracruz Celulose, R$ 300 mil da CVRD e R$ 500 mil da CST na ocasião.

As boas ações chegam também ao poder legislativo. Durante a campanha, os hoje deputados Nilton Baiano (PP), João Miguel Feu Rosa (PP), Marcus Vicente (PTB), Rose de Freitas (PMDB) e Marcelino Fraga (PMDB) tiveram à disposição recursos da Blokos Engenharia. Esses dados podem ser obtidos no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Após o pleito fica a pergunta: todos os candidatos eleitos têm idoneidade para atuar em favor dos que pagam os impostos, ou sucumbem a outros favores?

Como escândalos envolvendo concessões irregulares a empresas e caixa-dois já se tornaram célebres, a reforma política, quase mítica, também entra em discussão. Um dos pontos abordados é o polêmico financiamento público das campanhas eleitorais. De acordo com o projeto os recursos sairiam do orçamento da União, que destinaria cerca de R$ 840 milhões para a divulgação dos candidatos.

18.7.06

Agora os capitães-do-mato usam fardas...

Deu no Século Diário...

Choque da PM prende 100 quilombolas que catavam restos de eucalipto em área ocupada pela Aracruz

Ubervalter Coimbra

A Polícia Militar mobilizou sua tropa de choque para prender 100 descendentes de escravos negros que catavam restos de eucalipto em áreas ocupadas pela Aracruz Celulose no Córrego do Farias, em Linhares. A cata de restos de eucalipto é uma das poucas atividades que os descendentes dos quilombolas têm para garantir a subsistência de suas famílias, pois seus territórios foram tomadas pela empresa. Na operação de guerra realizada a pedido da Aracruz Celulose, a Polícia empregou um efetivo suficiente para caçar e imobilizar os negros, conduzidos em três ônibus ao meio-dia desta segunda-feira (17).

Matéria completa aqui


E deu confusão na delegacia...
Veja a reportagem da TV Gazeta, na qual obviamente os quilombolas são vistos somente na ótica de bandidos. Nenhum deles foi ouvido pra se defender. E olha que a repórter é negra. Mas de cabelo alisado.


Obs: a montagem tosca é de minha parte...

16.7.06

Classe Média

Futebol, multidão e pós-modernidade

O futebol é lindo por exaltar a harmonia

Antônio Negri*

O futebol é o mais lindo esporte do mundo, e isso porque é um jogo de virtudes. Explico: Maquiavel define como virtuoso aquele jogo no qual os jovens guerreiros romanos dançavam nos dias de festas, celebrando a vida e a guerra, o amor e a morte, a coragem e a generosidade. Maquiavel criticava, com essa definição, a maneira cristã, onde a alegria e o jogo foram estirpados e trocados por rituais tristíssimos. O futebol é, portanto, virtuoso porque é um jogo que reúne 22 singularidades que colaboram para um objetivo comum. Isso exalta a cooperação de pés e cérebros. Por mais paradoxal que pareça, podemos aplicar ao futebol os esquemas que derivam da sociologia do trabalho. Até o trabalho pós-moderno, imaterial e virtual, nasce da cooperação de funções intelectuais (de mãos e cabeças), realiza-se através de meios de comunicação e produz por meio de finíssimos nexos. O futebol seria como jogo pós-moderno? Não, certamente não: a modalidade nasceu em uma bela praça da Florença renascentista e foi codificado nas faculdades inglesas. É, logo, um fruto da modernidade. Apenas o futebol, melhor que qualquer outro esporte, adaptou-se à nova época na qual entramos, já que é o esporte das multidões. Das grandes multidões, que criam o espetáculo, mas, acima de tudo, daquelas pequenas multidões, aquelas aglomerações singulares, que constróem uma equipe. Faz algumas semanas, fui assistir a um ensaio do maestro Claudio Abbado com a Filarmônica de Berlim: um verdadeiro treinamento de grande singularidade. Maravilhoso era acompanhar a acumulação de partituras e torneios instrumentais em um som sempre perfeito e distinto, o som do que é comum. De tanto em tanto, o maestro se distanciava, descia do palco e fazia ver que a orquestra tocava sozinha. Também vendo o futebol, tenho a impressão de ouvir uma música tocada por si só. A importância do técnico é primordial, unindo o lúdico a uma eventual obra-prima. Mas voltemos para a sociologia do trabalho: também o trabalho imaterial, isto é, o trabalho intelectual, informático se articula através do fraseado múltiplo da singularidade. E, se a máquina organiza a produção, a cooperação linguística constrói seu sentido. Na medida em que aproximando os fonemas formamos palavras, e, juntando palavras, podemos gritar gol! Como grandes pensadores lógicos, os jogadores de futebol constróem significado com a inteligência dos pés, supervisionado pelo cérebro comunitário, que permite deslindar a ação complexa. Abbado desce do tablado, e a orquestra segue tocando. Produção da multidão, produção pós-moderna, produção intelectual. O futebol nasceu faz tanto tempo, mas somente hoje, quando entramos nessa nova era, pôde mostrar inteiramente o fascínio da vida atual, pós-moderna, imaterial. Dê uma olhada em outros esportes coletivos: o futebol americano ou o rúgbi não são construídos como uma totalidade, como uma música em coro. São, sim, fragmentos de episódios do jogo. Os dois conjugam uma exacerbação de performances individuais. São esportes esquizofrênicos, típicos da articulação moderna, sempre incompleta, ao mesmo tempo de massa e individual. Contrário a tudo isso, o futebol: aqui não há massa nem simplesmente individualidade. Há multidão que contempla as singularidades, há uma proliferação múltipla de ações singulares, há um coral polifônico.

*Antonio Negri é filósofo italiano

#Sobre Antonio Negri
#Mais Antonio Negri falando de futebol

14.7.06

Domínio Público: obras disponíveis gratuitamente na Internet

Não acredito muito nesses boatos de Internet que recebemos por e-mail. Mas o dito pelo não dito, vou divulgar um e-mail que recebi. Diz que o site Domínio Público, lançado em novembro de 2004 pelo Governo Federal corre o risco de ser desativado por falta de uso.
Trata-se de uma biblioteca digital desenvolvida em software livre (política que tem sido incentivada pelo governo). O acervo "é composto, em sua grande maioria, por obras que se encontram em domínio público ou obras que contam com a devida licença por parte dos titulares dos direitos autorais pendentes."

É possível ter acesso gratuitamente a arquivos de imagem, som, texto e vídeo de autores como Dante, Leonardo da Vinci, Machado de Assis, Fernando Pessoa, entre muitos outros escritores, artistas, pensadores, etc.

Pensei um pouco e concluí que talvez seja apenas um boato. O custo para manutenção desse site não deve ser alto o suficiente para justificar encerrar um projeto desses. Mas olhando as estatísticas fiquei muito encucado. Em janeiro de 2006 o Domínio Público registra 21 mil acessos. No mês seguinte são 53 mil acessos e em março mais de 150 mil.

E desde então o site manteve-se com mais de 10o mil acessos, batendo o recorde em junho com 172 mil. Será que esse aumento tão brusco tem alguma relação com os e-mails que rodaram por aí sobre o risco de acabar com a biblioteca? Se sim, isso mostra o potencialde circulação de informações da Internet, sendo que essa informação nem sempre tem credibilidade garantida (leia também uma análise sobre as correntes de e-mail como instrumento de mobilização política)

De qualquer forma, com um crescimento tão significativo, é muito improvável que o site saia do ar. Mesmo assim, não custa nada passar lá e fortalecer esse projeto e, claro, a sua mente também!

*Outro portal que oferece downloads gratuitos é o Projeto Democratização da Leitura

Como é que você ainda acredita no PT?

De um lado o "intelectual" e ex-presidente dizendo que "a ética do PT é roubar". Do outro lado, os ex-petistas do PSOL, afirmando que o PT de "Lulla" é podre, que não serve mais para nada. No meio desse fogo cruzado eu ficava muito triste. Não por Lula, Dirceu e essa corja toda, mas por grandes figuras petistas que conheço e tenho profunda admiração por suas lutas e honestidade.

E aí muito me impressionou saber que apesar de algumas tendências como a APS-Ação Popular Socialista - saírem do PT e se juntarem ao ex-petistas expulsos (autoritariamente, importante ressaltar) no PSOL, milhares de outros cidadãos, com histórico de lutas sociais ou não, muitos deles jovens ingressando na militância, entraram para o PT exatamente durante o período de "crise". Então, resolvi abrir um espaço para que uma dessas pessoas pudesse soltar seu Grito Sufocado e expor esse outro lado que a mídia não mostra, que é o PT da base, dos movimentos sociais.

Quem nos fala é Vicente de Oliveira, jovem petista de Maceió (AL). Na verdade é um bate-papo virtual que ele teve com um colega e que me mandou pra explicar um pouco o que ele pensava e sentia. Autorizado a publicar tal texto nesse blog, editei o texto, cortei alguns pequenos pedaços e passei-o para a linguagem formal, já que se tratava de uma conversa de chat. Claro que é a opinião de apenas UM petista, mas parece muito com o que já ouvi de tantos outros.

Para ler o texto inteiro clique aqui. É grande mas vale a pena.
Para ler algumas partes que eu selecionei vá para o post abaixo.

Como é que você ainda acredita no PT? II

"O PT surgiu como uma necessidade dos/as trabalhadores/as brasileiros/as de se organizar e lutar contra um sistema que explora e exclui e que não respondeu às necessidades do povo.
(...) necessidade desses/as trabalhadores/as se organizarem em um instrumento que aglutinasse todas as forças políticas de esquerda e progressista que existia na época. "

"É bom lembrar também que o foi algo novo no mundo. Porque não repetiu o modelo da URSS, como os partidos comunistas brasileiros PCdoB, PCB. Foi uma experiência nova, criada pelos trabalhadores/as para os/as trabalhadores/as, e o resto da historia você conhece: as lutas, as manifestações, entre outras tantas coisas em prol da classe."

"Como o PT reuniu muita gente, reuniu também muitas opiniões, começou a surgir as tendências (...) E foi criando um grupo muito grande e outros muito pequenos. Esse grupo grande (..,) se partiu em meados de 93. Surgiram dois grupos a partir desse: a Unidade na Luta (Campo Majoritário) e a AE (Articulação de Esquerda)
O primeiro, UL, conquistou o PT de vez no congresso de 94. É o mesmo grupo de Zé Dirceu, LULA, Mercadante, Marta, Dilma. E de lá ate 2004 eles só fizeram crescer. O que aconteceu com isso é que foi se criando uma maioria muito grande onde eles conseguiram ter mais de 50% da direção do partido. Com isso, impulsionado por esse grupo, o PT passou a dar mais valor a disputa institucional (disputar as eleições) do que a organização das massas, da classe, do povo."

"Enfim, o PT se tornou um partido grande, que tinha condições de disputar o poder com as elites e foi-se deixando de lado os movimentos socais ( é importante lembrar que o PT surgiu para aglutinar as massas e através dela romper com o capitalismo e lutar pelo socialismo. E enquanto não chega as condições necessárias para que isso aconteça, disputar a institucionalidade, para representar os movimentos sociais nos espaços contraditórios, no caso o parlamento e o poder executivo).
(...) Aí o PT chega à presidência, mas não ao poder de fato, já que só elegeu 17% do congresso. Aí surgiu dentro do PT uma tal de governabilidade, e a UL priorizou o fisiologismo do congresso para governar o Brasil em detrimento dos movimentos sociais"

"(...) a crise vivida pelo governo LULA é, na verdade, um episódio marcante da luta de classes no país. Como nunca antes na história. E sabemos muito bem de que lado a grande mídia vai ficar, no lado que a interessa, no lado que a mantém poderosa, no lado do grande capital (...) O ataque ao governo e ao PT assumiu um tom de fúria, como nunca antes visto. "

"(...)a crise como ela é apresentada não existe, num estou dizendo que não houve corrupção, ela existe sim, mas a crise nos moldes que vemos através da grande mídia, foi criada num momento que alguns julgaram interessante inventá-la."

"Quer dizer, é na verdade, um produto midiático que avassalou a sociedade brasileira inteira, querendo fazer parecer que o PT é igual aos outros partidos, quando não é, a cúpula partidária cometeu erros abomináveis, mas quem faz o partido de verdade, que é a militância, o povo organizado, nada sabiam e não tinha a ver com o que aconteceu."

"Continuo no PT por achar que ele ainda é um instrumento de aglutinar as massas, a base petista existe e opera nos movimentos sociais, onde houver um movimento social de verdade, propondo mudanças, a base petista estará lá
Então, como participante dos movimentos sociais, como critico do capitalismo e da ideologia dominante, critico do neoliberalismo, como almejo um modelo socialista, humano, igualitário e sem explorados nem exploradores, continuo a ser petista, isso é ser petista."

"Infelizmente a direção partidária começou a dar maior importância as eleições e esqueceu os militantes, mas luto para que essa lógica seja invertida novamente.
Sei também que o PT é o acumulo da classe trabalhadora brasileira e que não está fadado a ser eterno, mas que seu ciclo enquanto organizador das massas ainda não acabou."

"Ora pois, quando os movimentos sociais tem algum projeto pra apresentar no congresso, ou ate mesmo na câmara de vereadores de Maceió procura quem? Um deputado, senador, vereador petista. Qual o partido consegue dialogar com as massas? Com a classe? O PT."

"Então, companheiro, porque abandonar assim esse partido? Porque não lutar por ele? Por esse instrumento de luta? Porque não disputa-lo internamente? E se eu sair do PT, pra onde eu vou? Pro PSTU? Que já existe a mais de 12 anos e que não consegue ter inserção nas massas? Pro PSOL que já nasce com todos os erros e vícios do PT?
E pior, nasceu de parlamentares e uma senadora, resumindo, já nasceu de pessoas entregues a institucioanlidade, já nasceu no Congresso corrupto e fisiologista.
Não há alternativa viável nesse momento."

"Por isso luto. PORQUE O PARTIDO É DOS TRABALHADORES, O PARTIDO É DAS TRABALHADORAS. É gay, negro, feminista, democrático, socialista,classista e de luta."

13.7.06

Soja - Em Nome do Progre$$o

A expansão da soja na Amazônia tem atraído fazendeiros de outras regiões do Brasil, que se mudam com a ambição de se tornarem ricos rapidamente.

Mas tudo tem seu preço... Comunidades locais são ameaçadas e expulsas de suas terras. E a floresta é destruída para dar lugar à soja.

Para o Brasil, tudo em nome do "progresso". Mas, para aqueles que perderam suas terras e viram a destruição que a soja trouxe para a região de Santarém, o avanço da fronteira agrícola na Amazônia não significa nada a não ser devastação e miséria...

Documentário com narração de Marcos Palmeira.

10.7.06

Entrevista com Franklin Martins

Afastado da Rede Globo após quase uma década de trabalho, um dos mais conhecidos comentaristas políticos do país analisa a chamada “crise do mensalão” e avalia que a imprensa foi longe demais no episódio. “Parte da direção do PT cometeu erros e crimes, mas não havia o mensalão”, diz.

Leia aqui

7.7.06

BAR RUIM É LINDO, BICHO!

De Antonio Prata

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins.
Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda,adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.

"Ô Betão, traz mais uma pra gente", eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.


Continua...

3.7.06

Escalações duvidosas

Por Marcelo Salles

Teoria da Conspiração? Não. Análise fria do contrato da CBF com a Nike. Está no livro "CBF/Nike - as investigações da CPI do Futebol desvendam o lado oculto dos grandes negócios da cartolagem e passam a limpo o futebol brasileiro", de Aldo Rebelo e Silvio Torres (Casa Amarela, 2001).

As páginas 122 e 123 mostram que o contrato, assinado em 1996 por 10 anos e prorrogável por mais quatro, chega a um total de US$ 369 milhões (cerca de R$ 860 milhões) e, numa de suas cláusulas, registra: "A CBF se obriga a escalar os oito principais jogadores sob um critério não definido, mas que pode ser o da Nike".

Isso foi o que veio a público. Agora, imagine você o que consta no contrato vitalício de Ronaldo com a multinacional. Imagine os outros contratos, entendimentos e acordos da Nike com a CBF. E que outros jogadores possuem contrato com esta empresa? Ou a pergunta seria: quais não possuem? Zagallo e Luxemburgo possuíam quando treinadores. Será que Parreira também não é contratado da multinacional? O que diria tal contrato? A quem serve o técnico da seleção brasileira? Por que Roberto Carlos, Cafu, Adriano e Ronaldo têm vaga cativa nesse time? Ou essas perguntas não interessam à audiência da Globo?


*Do site Fazendo Media
Enquanto o Brasil declarava um pseudo-patriotismo diante de um pseudo- jornalismo abobalhante da TV Globo, enquanto os milhões de brasileiros paravam de trabalhar e se reuniam na frente das televisões, o Governo nos dava um golpe. O golpe de manter tudo como está. O golpe de não mudar, de não ter coragem, de não ter vontade. Na neblina de euforia a TV brasileira continua sendo a TV brasileira, a Rede Globo continua Rede Globo e o povo continua sendo bobo.
Eu, mais um abobalhado, demorei um bom tempo pra saber da notícia que já parecia certa, mas a data do anúncio, incerta. No fundo ainda existia aquela pontinha de esperança no bom-senso ou ainda na VONTADE DE CONSTRUIR UM PAÍS MAIS JUSTO que aqueles que hoje me apunhalam um dia me ensinaram a ter.
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