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A natureza humana parece ter uma grande tendência em criar mitos, simplificar tudo em heróis e vilões, que podem salvar ou destruir tudo.
George W. Bush personifica todo o ódio acumulado durante séculos de atrocidades come
tidas em sucessivos governos dos E.U.A que, para garantir seus interesses, intervieram muitas vezes no continente americano. Brincaram conosco como se fôssemos um teatrinho, usando seus fantoches para implantar ditaduras ou defender a democracia, de acordo com o interesse do momento vivido. E a proposta de implantar a Alca parece a muitos mais uma tentativa de nos explorar.
As eleições de diversos governos de esquerda no continente já mostrava que a população não aguenta mais a miséria terceiro-mundista e a espera por melhoras que nunca acontecem. Promessas de que seguindo os conselhos das nações desenvolvidas tudo ficaria bem. A América Latina precisava gritar.
A vinda do presidente estadunidense à Argentina para a Cúpula das Américas parece fazer com que os latino-americanos superem sua afasia e tomem as ruas de grandes cidades em protesto. Soa como um "Sai daqui que da nossa vida quem manda é agente!"
A crítica pela crítica- É muito importante que o povo manifeste seu protesto contra todos os absurdos. Porém, é preciso cuidado para que não sejamos simplórios demais. A crítica pela crítica é perigosa. E burra. Simplifica os problemas e não ajuda a resolvê-los. O ódio a Bush parece uma unanimidade mundial, difundido inclusive pela chamada "indústria cultural". Porém colocar a culpa nele é muito mais fácil do que lutar pra transformar a realidade.
Prime
iro, um presidente não governa sozinho. Junto com Bush existe uma grande equipe dos chamados "neoconservadores" e apoio dos grandes empresários (o próprio vice-presidente,
Dick Cheney, possui negócios milionários no ramo petrolífero). Além disso, estão legitimados pelo povo de seu país, embora as eleições tenham mostrado que a população norte-americana está dividida.
Pensar que tudo é culpa dos Estados Unidos também é muito restritivo. De fato, são os grandes baluartes do capitalismo. Mas este também se instalou em muitos outros países, embora não tão perfeitamente fixados. O fim da
Guerra Fria fez com o sistema capitalista prevalecesse globalmente. O percurso trilhado pela história nos levou até essa situação.
Sociedade global e consumista- Se todos os países possuíssem o consumismo exacerbado da sociedade estadunidense teríamos um grande colapso no meio ambiente e na produção (faltariam produtores). Porém o consumismo não é propriedade dos norte-americanos, e sim um valor propagado pelo sistema capitalista.
Embora os E.U.A sejam a principal potência política, econômica e militar, não são os únicos responsáveis por esse um mundo em que o dinheiro vale mais que o ser humano. A verdade é que vivemos numa era global. As fronteiras de espaço e tempo praticamente inexistem, a cultura vem perdendo sua característica local e se transformando em mundial, as empresas são multinacionais, os Estados são mínimos, as barreiras comercias são rompidas cada v
ez mais.
Nesse contexto, querer descontar tudo em uma só pessoa ou nação é buscar a forma mais fácil de aliviar sua raiva. Há uma microfísica e uma lógica macabra que sustentam toda a miséria e exploração.
De forma alguma, estou tentando desqualificar os protestos. Muito pelo contrário. Os vejo como muito importantes. Afinal, não se pode protestar contra o nada, já que a partir da análise anterior nota-se que o inimigo é invisível. Mas atento para o cuidado de que não simplifiquemos a luta a um anti-americanismo besta. Como já disse anteriormente: "colocar a culpa em Bush ou nos E.U.A é muito mais fácil do que lutar pra transformar a realidade".
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Mas o governo de Bush e companhia venceu uma eleição suspeita, inventou uma guerra, esnobou o Conselho de Segurança da ONU, ignorou os problemas ambientais, governa para empresários, fornece subsídios aos agricultores americanos enquanto defende o livre-comércio, usa a imprensa pra mentir para a população, defende um moralismo ultrapassado, atacou a liberdade dos americanos, entre outras coisas que o fazem odiado.